Feira da Cultura

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sexta-feira, 30 de novembro de 2012





AGUARDE 








III FEIRA DA CULTURA DE ARTE DO CONCEIÇÃO

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

projeto de literatura profª gisele

LITERATURA INFANTIL E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DA CRIANÇA NO ENSINO FUNDAMENTAL1

Gisele Nascimento Barroso2


Ser negro no Brasil é, pois, com freqüência, ser objeto de um olhar enviesado”
Milton Santos

JUSTIFICATIVA


Aventar questões raciais na escola é como nos ensina o Profº Milton Santos (2000) na citação que abre este texto, pisar em um terreno escorregadio onde ser negro no Brasil é, frequentemente, ser objeto de um olhar vesgo e ambíguo. Essa ambiguidade marca a convivência cotidiana, influi sobre o debate acadêmico e o discurso individualmente repetido, também, utilizado por governos, partidos e instituições. Há, sempre, o risco de cair na armadilha da emoção desbragada e não tratar do assunto de maneira adequada e pedagógica. Pois, segundo Cavalleiro (2006, p.227):
O silêncio do professor sobre as questões raciais facilita novas ocorrências, reforçando inadvertidamente a legitimidade de procedimentos preconceituosos e discriminatórios no espaço escolar e, a partir dele, para outros âmbitos sociais. Confirma dessa forma o direito de crianças brancas e não-brancas a exercerem a discriminação contra crianças negras.

Partindo dessa afirmativa, apresentamos outra consideração importante para o desenvolvimento dessa intervenção, é despojarmo-nos do medo de sermos preconceituosos e racistas. Como argumenta Munanga (2005) essa é uma condição primordial, para que possamos transformar radicalmente nossa estrutura mental herdada do mito da democracia racial, mito segundo o qual no Brasil “não existe preconceito étnico-racial e, consequentemente, não existem barreiras sociais baseadas na existência da nossa diversidade, (...) então enfrentar o segundo desafio de como inventar as estratégias educativas e pedagógicas de combate ao racismo” (p.18).
Para Eliane Cavalleiro (2006), a educação brasileira, visivelmente afetada pelo projeto neoliberal, torna pública a ausência de uma reflexão acerca das relações raciais no planejamento escolar, o que tem impedido a promoção de relações subjetivas respeitáveis e igualitárias entre os agentes sociais que integram o cotidiano da escola. Nesse sentido, o silêncio sobre o racismo, o preconceito e a discriminação racial em diferentes instituições educacionais e a ideologia do consumo, gestada de forma hegemônica, contribuem para que as diferenças de fenótipo entre negros e brancos sejam entendidas como desigualdades naturais e o que é mais grave, constroem e reproduzem os negros como sinônimos de seres inferiores.
Tais proposições justificam plenamente nossa intenção em discutir, à luz da Lei nº 10639/03, a importância de se identificar nas histórias infantis aspectos de racismo e preconceito, buscando incorporar nos currículos da Educação Básica conteúdos que valorizem as relações inter-étnicas, considerando a diversidade cultural como um patrimônio de um povo e desmistificando a suposta superioridade de uma raça sobre outra e isso se estende também para a relação entre os “outros brasileiros” e as inúmeras etnias indígenas que povoam o território brasileiro.
A literatura infantil contemporânea tem evidenciado uma preocupação cada vez maior em apresentar uma identidade cultural que expresse as relações de inclusão social. É neste novo contexto que a literatura negra se insere, incluindo um novo discurso na literatura brasileira.
Para Zilá Bernd (1988, p. 21e 22), ao conceituar literatura negra, à primeira vista, a expressão pode remeter a um conceito etnocêntrico e reacionário, pois é evidente que sensibilidade artística não constitui fator inerente a uma dada etnia. E ainda, no Brasil, a expressão literatura negra corresponde a uma reivindicação da parte de bom número de escritores afro-brasileiros que concebem a prática da escritura literária como um espaço propício à enunciação da reconstrução identitária, em crise após a destruição brutal representada por um longo período escravista.
Ao analisar a literatura constata-se, segundo os estudos de Rosemberg (1985), Negrão (1988), Cavalleiro (2000), que por muito tempo o negro foi incluído de forma preconceituosa, subalterna na sociedade e a literatura refletia essa situação. Nas obras de Monteiro Lobato encontra-se descrições dos personagens negros conforme os padrões da época, onde tia Anastácia era descrita como uma negra de alma branca. Fica claro também o papel subserviente desta, uma dos poucos personagens negros das estórias de Monteiro Lobato, onde esta nada mais era do que uma sombra de Dona Benta. Em obras do folclore, o Saci aparece como um negrinho que faz traquinagens e esconde coisas, um arquétipo do pivete mal criado dos dias de hoje, mais afeito à travessura e à vagabundagem do que qualquer outra coisa.
A pertinência dessa opção - trabalhar com a Literatura Infantil e a Identidade Negra - se justifica pela intensificação, na última década, das demandas políticas oriundas da luta do movimento negro, no Brasil, por maior visibilidade e legitimidade no campo educacional. Não foi por acaso a obrigatoriedade da introdução de estudos da História e Cultura Afro-brasileira no currículo, a partir da implementação da Lei 10.639/2003, trazendo a tona antigas e novas configurações de lutas hegemônicas identitárias, referenciadas no passado. Nesse processo, “é comum a presença de mecanismos de reafirmação e de legitimação que operam com alguma ―forma de autenticação (...) feita por meio da reivindicação da história do grupo cultural em questão” (ROSEMBERG, 2003 p. 142).
Construir uma identidade negra positiva em uma sociedade que, historicamente, ensina ao negro, desde muito cedo, que vivemos à sombra de uma imagem da convivência racial pacífica, cunhada por Freyre, no início do século XX, que se transforma de uma concepção negativa em exótica, de científica se modifica em espetáculo (SCHWARCZ, 1993). Ensina, também, que para ser aceito é preciso negar-se a si mesmo, o que constitui um desafio a ser enfrentado pelos negros brasileiros.
Partimos da compreensão de Nilma Gomes (2003, p.171), a respeito da identidade negra quando esta afirma que:

A identidade negra é entendida, como uma construção social, histórica, cultural e plural. Implica a construção do olhar de um grupo étnico/racial ou de sujeitos que pertencem a um mesmo grupo étnico/racial sobre si mesmos, a partir da relação com o outro. Um olhar que, quando confrontado com o do outro, volta-se sobre si mesmo, pois só o outro interpela nossa própria identidade.(GOMES, 2003, p. 171)

Nessa perspectiva, pensamos a escola como um espaço social específico de formação, inserida num processo educacional amplo, onde encontramos mais do que currículos, disciplinas escolares, regimentos, projetos político-pedagógicos, provas e conteúdos. Deparamo-nos com diferentes agentes (BOURDIEU, 2000) que se relacionam, que se comunicam e que se encontram. A escola, na perspectiva apontada por diversos autores (GOMES, 2002; COELHO, 2009, 2010; ROSEMBERG, 1992 , entre outros), pode ser considerada, então, como um dos espaços que interferem na construção da identidade negra. O olhar lançado sobre o negro e sua cultura, no interior da escola, tanto pode valorizar identidades e diferenças quanto pode estigmatizá-las, discriminá-las, segregá-las e até mesmo negá-las (GOMES, 2002, p.39).
A identidade, portanto, é um processo relacional e contínuo, construído pelos agentes nos vários espaços, nos quais circulam. A identidade de crianças negras brasileiras apresenta particularidades passíveis de serem atribuídas a seu pertencimento racial. Nesse percurso, as crianças negras defrontam-se, na escola, com compreensões, sobretudo, na literatura de negação de suas marcas raciais, pelo embranquecimento, reiteradamente descrito nas narrativas. Muitas vezes, essas compreensões debatem-se com sua própria visão e experiência da negritude e das diversas maneiras como estas são tratadas.

OBJETIVOS

Geral

Despertar na criança o desejo de escutar e ler contos de origem africana

Específicos


  • Promover o fortalecimento da auto-estima, evidenciando o orgulho de pertencer a um grupo étnico-racial onde sua cultura, sua história seja valorizada e respeitada;
  • Tratar a questão das diferenças, valorizando a diversidade a partir da raça negra;
  • promover sessões de contação de histórias que abordem temas raciais nas turmas do 2º e 3º anos do Ensino Fundamental.

PÚBLICO ALVO


O público-alvo deste projeto serão um total de 60 crianças do 2º e 3º ano, na faixa etária de entre 07 e 08 anos, matriculados em duas turmas: uma no turno vespertino e outra do turno matutino.
Para a compreensão desta faixa etária, este projeto, tem por base teórica, os postulados de Vygotsky (1978), para o qual a maneira de ver o sujeito e de ver o seu desenvolvimento confere à sua teoria uma postura “sócio-interacionista”, pela postulação de que o conhecimento é construído na interação sujeito-objeto e de que essa ação do sujeito sobre o objeto é socialmente mediada.


A autonomia do sujeito e a regulação de suas ações constroem-se sobre interações. Há, mais e mais, um domínio dos meios de ação que antes eram partilhados de alguma forma, em algum grau. A linha do desenvolvimento é, em conseqüência, uma linha de diferenciação e formação do indivíduo, de individuação do seu funcionamento. A criança é um ser social que se faz indivíduo ao mesmo tempo que incorpora formas maduras de atividade de sua cultura. Individualiza-se e se socializa. A relação social/individual implica, portanto, vinculação genética e constituição recíproca.(GÓES, 1991, p.21.)


Portanto, os processos de incorporação da cultura e individuação permitem a passagem de formas elementares de ação a formas complexas, mediadas. As funções psicológicas superiores como a percepção, memorização, atenção, pensamento e imaginação são marcados pelo uso de recursos da mediação internalizados. O alcance destas formas superiores ocorre através da relação interpessoal com outros homens onde o indivíduo vai interiorizar as formas culturalmente estabelecidas de funcionamento psicológico. Desse modo, “a inserção social, seja através dos diversos elementos da cultura, seja através do ambiente culturalmente estruturado, fornece a matéria-prima para o desenvolvimento psicológico do indivíduo” (OLIVEIRA, 1992, p.50).

METODOLOGIA


As atividades e suas estratégias
Para o desenvolvimento desse projeto, algumas ações serão desenvolvidas a partir da literatura pertinente as Relações Raciais no Brasil, bem como da Legislação vigente e da contação de histórias de temas raciais, a saber:

Atividade nº1 :

Apresentação para os professores, funcionários e técnicos da escola o projeto de intervenção, considerando a Legislação sobre as Relações Raciais e a Educação. para que tenham conhecimento da importância da aplicabilidade deste projeto e do conteúdo que traz a Lei nº 10.639/2003, bem como suas Diretrizes;
Nesta ação vê-se o fortalecimento do compromisso com a defesa da construção do pleno exercício da cidadania. Levando-se em consideração que é preciso educar o indivíduo para a convivência saudável no espaço em que está inserido, ao propor este trabalho, busca-se a compreensão de como são construídas as relações raciais. A importância disso consiste na quebra de preconceitos, inclusão social e promoção da equidade. Para atingir essa ação, a exposição oral e visual dos principais aspectos da Legislação e de suas Diretrizes será fundamental, bem como, a utilização do vídeo Vista minha Pele.
Esta atividade tem como proposta ser realizada em 02 momentos será sugerido que aconteceram nas primeiras sextas-feiras do mês de Agosto de 2011, já que neste dia da semana a escola dispensa os alunos em horário diferenciado para garantir ao professor momentos de planejamento e discussão.

Objetivo específico para esta atividade
  • Subsidiar aos professores o conhecimento da importância da aplicabilidade deste projeto e do conteúdo que traz a Lei nº 10.639/2003, bem como suas Diretrizes;
Atividade nº 2:
Subsidiar o trabalho docente, afim de que a discussão sobre a temática racial por meio dos contos africanos seja abordada em todas as disciplinas;
Para esta ação trazemos a contribuição das autoras Gomes (2003) e Coelho (2009) que em seus estudos reiteram a importância do trabalho pedagógico, para ambas a escola é vista, como um espaço em que aprendemos e compartilhamos não só conteúdos e saberes escolares, mas, também, valores, crenças e hábitos, assim como preconceitos raciais, de gênero, de classe e de idade. Para atingir essa ação, serão apresentados alguns contos africanos, para que o professor discuta com seus pares as principais contribuições destas obras para a constituição da identidade positiva da criança na escola, como: “As tranças de Bintou”, de Sylviane Anna Diuof; “Bruna e a Galinha d´Angola, de Gercilga de Almeida e “Menina bonita do laço de fita”, de Ana Maria Machado.
Ao vivenciar essa atividade, o professor, volta-se para a observação das diferenças enquanto características e abandonam-se preconceitos que ao longo do tempo da história serviam para a desvalorização dos atributos individuais. Os contos apresentados são expressão de resistência às ideologias que marcaram e marcam a opressão ao negro, se fundem na noção do não-racismo, na integração dos povos, na cooperação e na solidariedade entre os membros da sociedade. Ressaltam ainda a beleza e a afabilidade da raça negra. Circunscrevem um lugar de respeito e dignidade para os negros. Subjaz a idéia de que o mundo é um lugar para todos, e não para alguns.
Ao se servir de um material paradidático, o professor precisa atentar para a problemática que reside basicamente no fato de que a escola pode se servir de um material paradidático sem se dar conta de que a forma como se conduz a reflexão. Desse modo, após o trabalho de leitura e apreensão dos aspectos essenciais da narrativa, as quais poderão reforçar positiva ou negativamente os traços identitários, os valores culturais e mesmo a própria referência de beleza da criança onde a nosso ver reside um perigo iminente, o da transformação do corpo em favor de uma cultura eurocêntrica de consumo) ao dimensionar os personagens como feios ou bonitos, ativos e corretos em suas atitudes, ou passivos e redimidos pela atitude do outro.
Objetivo específico para esta atividade:
  • Inserir no Currículo da escola a temática racial de modo a positivá-la.

Atividade nº 3:

Fornecer aos alunos conhecimentos sobre a história e contribuição da população negra para a construção da nação brasileira por meio das sessões de contação de histórias nas turmas elencadas para aplicação deste projeto;
Nesta ação será fundamental estimular o convívio e o respeito às diferenças. Nas sessões, as crianças terão a oportunidade de saber que existem contos, histórias de diferentes etnias, produzidas por diferentes povos, como africano, indígena, europeu, entre outros.

Objetivo específico para esta atividade:
  • Reconstruir o imaginário sobre o negro a partir de representações positivas;



Atividade nº 4:
Registrar conhecimentos e atitudes adquiridas pelas crianças por meio de desenhos a partir da apresentação das histórias que valorizem a identidade negra; Exposição de um painel com os desenhos produzidos pelos alunos na Feira de Arte e Cultura da Escola, com explanação oral dos alunos.
Objetivo específico para esta atividade:
  • Evidenciando o orgulho de pertencer a um grupo étnico-racial onde sua cultura, sua história seja valorizada e respeitada;

ETAPAS DO PROJETO

1° mês
  • Apresentação do projeto a direção da escola;
  • Digitalizar os contos africanos e os livros que trazem conteúdo racial.
2° mês
  • Exposição do conteúdo da lei 10.639/03, aos professores da escola, por meio de oficinas, debate acerca do conteúdo da lei.

3° mês
  • Sessões de contação de histórias nas turmas do 2º e 3 º do ensino visando positivar a identidade negra e as contribuições da cultura africana e afro-descendente em nossa sociedade.
  • Propor aos alunos que façam desenhos a respeito dos contos e histórias vistas.

4° mês
  • Construção de um painel com os desenhos feitos pelos alunos após a exposição dos contos e historias com temas raciais.
  • Fazer a exposição oral do painel com desenhos dos alunos durante a mostra de arte e cultura da escola.
5º mês –
  • Avaliação do Projeto de Intervenção.

RECURSOS:

Humano
- Gestores
- Professores
- Funcionários
- Alunos
Didáticos:
- Cartolinas
- Tesouras
- Papel-Ofício
- Revistas
- Jornais
- Canetinhas
Materiais:
- Data Show
- Computador
- DVD
- Televisão
- Aparelho de som (Micro system)

AVALIAÇÃO

Considerando o mote para a discussão da temática étnico-racial e de valorização de identidades positivas acerca do negro por meio de dois contos da Literatura Infantil Brasileira, este projeto apresenta como proposta de avaliação a verificação de autovalorização e confiança por parte das crianças negras, à medida que são reconhecidas no grupo pelos seus pares e pelos professores, bem como a aceitação e reconhecimento da negritude no contexto escolar e de provocar mudanças na forma de olhar para a história e para as questões naturalizadas na sociedade, como as do negro, do racismo, do preconceito, buscando enfrentá-las pedagogicamente no cotidiano escolar. Ou seja, desconstruir conhecimentos que inferiorizam as diferenças e contribuir na formação da identidade de crianças negras e não-negras para que possam ser cidadãos conscientes na luta pela igualdade racial.

1 Projeto de intervenção que compõe o terceiro capítulo do trabalho monográfico apresentado ao curso de Especialização em Relações Raciais para o Ensino Fundamental pela Universidade Federal do Pará em 2010 e aplicado na Escola Regime de Convênio Nossa Senhora da Conceição nas turmas de 1º Ano do Ensino Fundamental durante os meses de junho e novembro de 2011.

2 Pedagoga, Antropóloga, Especialista em Relações Raciais para o Ensino Fundamental, professora da Rede Pública Estadual e Coordenadora do Programa Mais Educação na Escola Regime de Convênio Nossa Senhora da Conceição.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

segunda-feira, 7 de novembro de 2011